Foi a chamada PORRADA. O gigante alemão não tomou conhecimento do grande bicho papão da Europa dos últimos anos e fez gato e sapato de Messi e cia. Muitos ficaram estarrecidos, completamente surpresos com o placar nada habitual pra um jogo de semi-final de Champions League, ainda mais quando de um lado do campo estava simplesmente um dos maiores times de todos os tempos. No entanto, quem está acompanhando o que os homens de Jupp Heynckes vêm fazendo na atual temporada, em que já garantiu com várias rodadas de antecedência o título da Bundesliga e cravou seu lugar na final da Copa da Alemanha, não se espantou. O time liderado por Lahm, Schweinsteiger (como é mesmo aquele papo do Felipão sobre volante que ataca só ser bom pra imprensa?), Robben, Ribéry, Müller, Dante e Manuel Neuer tem feito jogos absolutamente espetaculares ao longo de todo ano e em quase todos costuma marcar muitos gols, seja contra qual adversário for. Não bastasse isso, a defesa é um paredão quase intransponível, ajudada, principalmente, pelo fato de a equipe valorizar ao máximo a posse de bola, um princípio muito difundido pelo rival, que ontem não conseguiu aplicá-lo com a eficiência de sempre. Isso porque o Bayern não lhe deu a menor chance.
Mesmo tendo perdido outras partidas e classificações durante esses anos em que dominou o futebol mundial, foi a primeira vez em muito tempo que o Barcelona bateu de frente com um adversário que topou encará-lo de igual pra igual. Jogou como vem jogando habitualmente. E o fez por estar seguro de si e da sua capacidade. Além disso, seu treinador, um voraz estudioso, sabia que o oponente vinha meio chumbado. A escalação do Messi foi uma aposta arriscada do Vilanova. Ter optado por ela só mostrou o quanto tinha receio de que as coisas não corressem bem naquela partida. Jogando desde o início, era mesmo muito difícil que a Pulga conseguisse repetir o que fez contra o PSG, quando entrou a meia-bomba depois que o time levou o gol do Pastore e iniciou a jogada que terminou com o chute certeiro do Pedro. Era nítido que ele estava bem longe das suas melhores condições. Houve momentos em que deu pena de vê-lo tentar coisas que seu corpo simplesmente não conseguia executar.
Outra coisa que poucos comentam, mas que foi também determinante pra que o Barça tomasse o vareio que tomou. Desde que o Puyol se machucou, o time toma gols em praticamente todos os jogos. A média de tentos sofridos disparou após a contusão do capitão. Só no Brasil é que ele ainda carrega a fama de ser um zagueiro grosso, cintura dura e sem recursos. Vários dos nossos “especialistas” insistem em ignorar solenemente os números, contra os quais, dizem, não há argumentos. Nada anormal pra quem insiste que aqui ainda se joga o melhor futebol do mundo. Risos.
E agora, o que esperar do Barcelona? Será esse o fim de uma era? Tá certo que ainda tem a volta e (perdoem o clichezão) no futebol tudo pode acontecer. É o jogo, onde o impossível se torna possível em questão de poucos minutos. Mas vamos admitir que não haja reviravolta e o Bayern confirme a classificação lá no Camp Nou. Mais: que ele confirme a passagem à final vencendo mais uma. Qual o peso que isso terá na trajetória dos catalães. Com certeza não será pequeno. Depois de tanto tempo de hegemonia, é natural que haja uma reformulação. Mais ainda se lembrarmos que esse time perdeu seu treinador, maior responsável pelos anos dourados que viveu, e o substituto, acometido de um câncer, quase não pôde trabalhar na temporada. É muito fácil olhar pros maus resultados recentes do clube e não colocar essas outras questões na balança. Ao mesmo tempo, acho pouco provável que consigam pinçar das “canteras” jogadores que possam chegar e eventualmente substituir os Xavi e Iniesta da vida sem que haja uma perda de qualidade substancial. Haverá muito trabalha a fazer e é possível que ele demore a dar resultados novamente. O que é bastante natural no futebol. Só não o é na cabeça de quem acha que tudo deve acontecer pra ontem, como costuma ser o nosso caso.
Com sua força tradicional, uma camisa que impõe respeito por onde quer que passe, um time encorpado e calejado pelas derrotas nas finais de 2010, contra a Inter, e 2012, contra o Chelsea, essa dentro da sua própria casa, o Bayern é, sem dúvida, o favorito a roubar do Barça o título de melhor e mais encantador time do planeta. E que já anunciou as chegadas dos dois primeiros grandes reforços pra temporada que vem, Guardiola e Mario Götze, a jóia do Dortmund e da seleção alemã, jogador com características 100% dentro daquilo que o técnico espanhol gosta de ver nas equipes que dirige. Vai ser muito interessante acompanhar o trabalho do Pep por lá. Principalmente se eles vencerem as duas outras taças que ainda estão em disputa: a da Champions e a da Copa da Alemanha. A responsabilidade de se assumir um time multicampeão é muito maior do que a de começar um trabalho do zero, quando qualquer resultado já será melhor do que o que se tinha antes. É só mais uma razão pra que fiquemos de olho nesses caras.
A Champions segue hoje com mais um jogo que promete fazer defunto levantar da sepultura e correr pra frente da TV. Meu palpite: Dortmund vence por 2 a 1. Enquanto isso, aqui no “país do futebol”, o time B da CBF faz mais um amistoso inútil contra um morto de fome qualquer. Outra chance pra que Neymar e sua patota possam enganar os poucos manés que ainda acreditam que eles devem ser levados a sério. A cada dia que passa sinto mais ainda um misto de pena e nojo do que o futebol brasileiro se tornou.
Abraços,
Tatu
